quinta-feira, 31 de março de 2011

Senso Comum e Senso Crítico ...





Todo mundo possui opinião, não é mesmo? No entanto, existem diferentes maneiras de interpretar e se posicionar frente ao mundo, ou seja, uma mesma situação pode ser vista de diferentes formas por diferentes pessoas. Você já tinha pensado nisso antes? O senso comum e o senso crítico fazem parte destas formas de encarar, se posicionar e conhecer a realidade, cada qual a sua maneira e implicação. Vamos conhecê-los?


O que seria, então, senso comum? Tente responder e compare sua resposta com a nossa! É preciso entender senso como: “faculdade de julgar, de sentir, de apreciar; juízo, entendimento, percepção, sentido”. O senso implica tanto a ótica com a qual olhamos as coisas, quanto à maneira como nos posicionamos frente a elas. O senso comum possui a marca de ordinário, normal, coletivo, que por sua vez guarda o significado de superficial, irrefletido, inocente. Ele seria o posicionamento formado pela união de informações pacificamente incorporadas.


Segundo Cotrim (1992) O conhecimento do senso comum possui, habitualmente, as seguintes características gerais:

• Imprecisão: conceitos vagos, sem rigor, que não definem claramente seu conteúdo e alcance.

• Incoerência: associação, num mesmo raciocínio, de conceitos contraditórios, que se anulam em termos lógicos.

• Fragmentação: conceitos soltos, que não abrangem, de modo amplo e sistemático, o objeto estudado. (1992, p.15).


Fazem parte do rol de informações do senso comum as opiniões impensadas, que podem ser emitias por amigos, vizinhos, jornais, televisão e religião. Sua marca maior é a ausência de reflexão e a aceitação pacifica e inocente. É o pensamento popular, do povão, sem reflexão alguma. O senso comum não é falso, ele pode até possuir informações verdadeiras, apenas sua maneira de apreender e conceber a realidade é irrefletida. Enfim, podemos dizer que o senso comum não possui rigor quanto à coerência e lógica de seus conceitos, o que faz com que as pessoas pertencentes à classe comum sejam mais facilmente manipuláveis.


As implicâncias naturais do senso comum são:

Alienação: por não questionar criticamente, o individuo acaba alienado em alguma esfera como econômica, intelectual etc. ou mesmo em todas elas. Por exemplo, uma pessoa que por não refletir não sabe exercer conscientemente seu direito político de votar, e é influenciada por propagandas, etc.

Manipulação: como não tem consciência critica da realidade, ela é facilmente manipulável, utilizando ainda o exemplo do voto, seria aquela pessoa que vota num candidato por ele lhe presentear com algo, e não por ele ser a pessoa certa para representá-la.

Massificação: pela ausência de opiniões individuais, cria-se um senso globalizante, um paradigma que todos devem seguir. Como exemplo podemos citar as lanchonetes multinacionais, que servem o mesmo cardápio para diferentes povos, pessoas, culturas e países.

O senso comum é permeado pela ideologia. Mas o que é ideologia? Você já ouviu falar nela? “Ideologia pode tanto significar um simples conjunto de idéias de uma pessoa ou povo, quanto o “conjunto de representações e idéias, bem como de normas de conduta por meio das quais o homem é levado a pensar, sentir e agir de maneira que convêm as classes dominantes”.

Por ser o senso comum irrefletido pacífico, dogmático, etc., e conseqüentemente implicar massificação, alienação e manipulação, a ideologia atua nele de forma decisiva.

O senso comum (formado geralmente pela classe dominada), por suas características, acaba compartilhando das idéias formuladas pela classe dominante.

Com isso, já que nossa sociedade valoriza o capital, acabamos sendo julgados pelo que temos e não pelo que somos de verdade.

No Brasil, em particular, a televisão, é o grande veiculador das idéias da classe dominante. O fato é que há uma grande conspiração visando à manipulação. A manipulação ocorre porque é fácil controlar um povo mal informado e desconhecedor de seus direitos. O senso comum, portanto, descarta qualquer espécie de reflexão, seja ela filosófica ou não.


O senso crítico, ao contrário do senso comum, possui como principais características à reflexão, a análise, a critica, enfim, ele pauta-se pelo uso consciente da razão para administrar suas idéias.

Dogmas, opiniões, crenças, etc. todas as idéias rígidas que no senso comum são aceitas pacificamente, no senso critico são minuciosamente investigadas e analisadas, o que proporciona um juízo coerente, autônomo e flexível sobre elas. No senso crítico, os saberes como o filosófico, o científico, o sociológico, enfim, os saberes de modo geral, são extremamente valorizados, já que se tem uma idéia verídica sobre o que eles ensinam e proporcionam.


Esperamos que nas suas aulas você extrapole os limites do senso comum e possa alcançar o senso critico, tornando-se além de um aluno consciente, uma pessoa melhor.

O preconceito em relação à Filosofia



Você já sofreu algum tipo de preconceito?

Preconceito? Sempre ouvimos falar nessa palavra, mas afinal de contas o que ela significa? Existem várias formas de explicar o que é preconceito, sugiro que você pesquise para ampliar seu horizonte de conhecimento.
De forma geral, o preconceito não passa de um conceito que criamos ou atribuímos antes de saber o que aquilo realmente é. Por esse falso conceito julgamos as coisas de forma errada e, muitas vezes, maltratamos o próximo sem pensar nas conseqüências daquele ato. No mundo existem várias formas de preconceito. Por exemplo: quando criticamos uma determinada religião sem conhecê-la de fato, quando julgamos as pessoas e as coisas pela aparência, etc. Geralmente o preconceito é manifestado pelo aquilo que é diferente do cotidiano das pessoas ou pelos falsos valores criados pela sociedade, por exemplo: por se negro, homossexual, pobre, “nerd”, pertencer à outra etnia, etc. Tudo isso é muito triste e revela a intolerância e a irracionalidade de alguns valores sociais.
Se formos descrever todos os tipos de preconceitos ficaremos meses e não descreveremos tudo. O importante é não julgar pelas aparências e buscar sempre conhecer a verdade atende de formular o seu conceito, evitando assim os falsos conceitos.
E com a Filosofia, será que existe preconceito? Como a Filosofia é vista atualmente? Vamos construir a resposta juntos.
Com o advento das revoluções cientificas e a difusão da ideologia do capital, o saber, sobretudo o filosófico, foi sendo gradativamente desconsiderado e em seu lugar elegeu-se um outro saber, totalmente direcionado a servir aos interesses de uma sociedade pragmatista, utilitarista e consumista.
A ciência, aliada ao capitalismo, passa a definir os paradigmas culturais, éticos e estéticos, vinculando unicamente as informações que favoreçam a lógica individualista e do acúmulo de riquezas, transformando o homem, antes visto como um ser de cuidado, em um ser de consumo, exposto na prateleira das mercadorias descartáveis e alienadas da pós-modernidade.
Com isso, as questões existenciais e axiológicas passam a ser encaradas como inúteis e, conseqüentemente, descartas, gerando total esquecimento da problemática humana.
Com base nesse contexto, propomos a você uma reflexão filosófica, tal qual um grito de resistência contra a banalização do homem e a depreciação do conhecimento.
Será que o preconceito contra a Filosofia é atual ou sempre existiu.
O que acham?

O preconceito em relação à Filosofia existe desde seu surgimento, no século VII a.C.
Vejam os exemplos abaixo disponível na apostila do aluno - 3º série - volume 01.
Tales de Mileto - o distraído;
Sócrates: aquele que vive nas nuvens;
A morte de Sócrates, e muitos outros.


Vejam o que diz alguns trechos do livro “Convite a Filosofia” de Marilena Chauí.

Para que Filosofia?
[...] “Ora, muitos fazem uma outra pergunta: afinal, para que Filosofia? É uma pergunta interessante. Não vemos nem ouvimos ninguém perguntar, por exemplo, para que matemática ou física? Para que geografia ou geologia? Para que história ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astronomia ou química? Para que pintura, literatura, música ou dança? Mas todo mundo acha muito natural perguntar: Para que Filosofia?
Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irônica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia não serve para nada.
Por isso, se costuma chamar de “filósofo” alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis.
Essa pergunta, “Para que Filosofia?”, tem a sua razão de ser.
Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de utilidade imediata.
Por isso, ninguém pergunta para que as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à realidade.
Todo mundo também imagina ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das obras de arte, quanto porque nossa cultura vê os artistas como gênios que merecem ser valorizados para o elogio da humanidade. Ninguém, todavia, consegue ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: não serve para coisa alguma.
Parece, porém, que o senso comum não enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, através de instrumentos e objetos técnicos; pretendem fazer progressos nos conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os.
Ora, todas essas pretensões das ciências pressupõem que elas acreditam na existência da verdade, de procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia como aplicação prática de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser corrigidos e aperfeiçoados.
Verdade, pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relação entre teoria e prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência, são questões filosóficas. O cientista parte delas como questões já respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e busca respostas para elas.
Assim, o trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da Filosofia, mesmo que o cientista não seja filósofo. No entanto, como apenas os cientistas e filósofos sabem disso, o senso comum continua afirmando que a Filosofia não serve para nada.
Para dar alguma utilidade à Filosofia, muitos consideram que, de fato, a Filosofia não serviria para nada, se “servir” fosse entendido como a possibilidade de fazer usos técnicos dos produtos filosóficos ou dar-lhes utilidade econômica, obtendo lucros com eles; consideram também que a Filosofia nada teria a ver com a ciência e a técnica. [...]


Inútil? Útil?
[...] O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? Para que e para quem algo é útil? O que é o inútil? Por que e para quem algo é inútil? O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando utilidade e a famosa expressão “levar vantagem em tudo”. Desse ponto de vista, a Filosofia é inteiramente inútil e defende o direito de ser inútil.
Não poderíamos, porém, definir o útil de outra maneira?
Platão definia a Filosofia como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos.
Descartes dizia que a Filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a
conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes.
Kant afirmou que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana.
Marx declarou que a Filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e que se tratava, agora, de conhecê-lo para transformá-lo, transformação que traria justiça, abundância e felicidade para todos.
Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia é um despertar para ver e mudar nosso mundo.
Espinosa afirmou que a Filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.
Qual seria, então, a utilidade da Filosofia?
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes”. [...].


FONTE: CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática S.A., 1994. 440 pg.

Questões de Filosofia no ENEM 2010.



Questões de Filosofia no ENEM 2010.doc